terça-feira, setembro 28, 2010


Quando você ama -realmente- alguém, essa pessoa se torna parte de você, ela se torna sua vida, seu tudo. Muda e inspira de tantas maneiras diferentes que são indescritíveis.

 


 



...porque quando você ama alguém de todo o coração, você vai deixar de amar a si mesmo.

terça-feira, julho 27, 2010

A evocação só começa quando os ponteiros anunciam o próximo instante. É preciso estancar o tempo para que o pensamento flua em liberdade. Por isso deixo de dar corda no relógio de carrilhão, não escuto badaladas dos quartos de hora; então me esqueço das prisões cronológicas e atenho-me ao sentimento crescente, independente do tempo que levou para crescer, intensidade gritante num ritmo frenético e abrupto. À sombra dessa abstração, consigo rabiscar nuances no imaginário. Escrevo palavras soltas, crio frases, tenho prazer em escandir sílabas, uma a uma; os lábios murmuram, mas você não me ouve. Não, não me ouça agora...só me abrace e entenda o quanto ta sendo importante pra mim, o quão especial e assustador têm sido e crescido. Conheço os meus refúgios, aprendi a fisgar o inatingível, toco de longe, cuido de longe, mesmo quando vejo de perto. Sinta, apenas sinta.
Em meio a desavenças, tristezas, alegrias... Tornei-me mulher. Entretanto não vou deixar de falar da menina que não cala em mim. Não é exagero dizer que o epicentro de todas as minhas recordações encontra-se na infância, lá mesmo , na ampla casa que me acolhia nos medos e nas alegrias.
Hoje, cada dia me desaponta com virgens surpresas, as interrogações enchem o meu céu azul que um dia foi turvo. Entreguei tão rápido o que guardei por anos, o céu turvo abriu-se. Será que eu mereço, será que o querer propriamente dito e desejado está próximo? No silêncio de um instante que presumo estancar, deduzo que olhei o mundo por trás de um vidro e você acrescentou às cores e nenhuma dessas expressões morrerá em mim a menos que cultive, cuide e permita-se ser retribuída. Quero sentimentos lindos e infindáveis, quero abraços ternos e eternos... Quero querer sem medo, sem medo de amar, sem medo do amor. Um dia vai entender o som mudo das minhas palavras, o meu abraço que confessa, o olhar de quem sente e não nega.

domingo, junho 27, 2010

A estética dos sentimentos




O mundo é feito de emoções: surpresa, medo, riso, choro... Há dias tranqüilos; outros, tumultuados. As previsões são tão fugidias, que escapam do osso controle. Dependem das circunstâncias. E não somos capazes de traçar com segurança metas antecipadas. No redemoinho das sensações, trago a idéia de um cromatismo interior, sentimento que aflora em tom e semitom difuso ou clarividente. Procuro, talvez, em vão, imaginar cores para as vivências. Atribuo uma estética ao subjetivo. Pois é, o sentir se alia à arte e todos os atos humanos dependem da maneira como cada um se depara com os acontecimentos. Carrego uma sensibilidade à flor da pele, vejo-me um acúmulo de intuições, perguntas sem respostas, devaneios, alheamento. Repito Fernando Pessoa 'Quando olho pra mim, não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir que me extravio às vezes ao sair das próprias sensações que recebo'.
Os versos são belos e confirmam o exercício da estética. Têm sido assim os grandes poetas, aqueles que dão à escrita a força das imagens: palavras que embalam fonemas num ritmo melodioso, a transcender a materialidade para atingir a abstração na sua mais fina agudeza. Às vezes entendo que a vida reclama a arte em todos os momentos. Cada minuto deve ser vivido como se fosse uma obra de arte. Tempo igual à arte, eis a síntese da existência. Arte na palavra, arte na pintura, na cultura ou na menor expressão humana.
A criação simboliza o ponto de partida. Afinal, 'viver não é necessário, o que é necessário é criar.
Tudo isso vem à tona porque ando atordoada com o ritmo do cotidiano. As pessoas transitam apressadamente e eu não sei pra onde vão. Caminham céleres na direção do quê? Outro dia, mais especificamente horas antes do jogo entre Brasil e Coréia do norte, percebi o trânsito agitado, a calçada se tornara num atalho de fuga, os motoristas buzinavam impacientemente, os desaforos eram disparados às cegas.
Os tempos contemporâneos se revelam ruidosos, violentos, pragmáticos. Compreendi que o bosquejo dos sentimentos reivindica um mínimo de meditação. A ascese não pode acontecer dissociada de constantes imersões. Invejei a rotina dos mosteiros, as clausuras isoladas, o passeio no átrio. Circulo de um lado para o outro, do frenesi à calmaria; então me deparo com a lhaneza do dizer: amar é a eterna inocência, e a única inocência não pensar..'
Os sentimentos se completam na estética, na forma, na cor, na gradação dos contrastes. De Michelangelo a Picasso, os propósitos são semelhantes, cruzam-se e se tocam em linhas convergentes: a busca do belo. Os descompassos dos dias atuais se distanciam do culto à virtuose e proclamam tecnologia como o cimo de todas as coisas. A humanidade mudou e eu me tornei uma estranha observadora, alguém à deriva, escolhendo cores para tratar afetos e desafetos. Uma abstração que me agrada.
Como definir a cor do silêncio, da alegria, da lágrima? O silêncio será branco, límpido, cheio de pureza? A alegria, amarela, expressiva? A lágrima, indefinida, quase oculta, turva, a evocar o cinzento? Ou as tonalidades são ilusões de um coração nostálgico?
"A minha alma partiu-se como um vaso vazio, caiu pela escada excessivamente abaixo, caiu das mãos da criada descuidada, caiu, fez-se em mais pedaços do que havia no vaso."
Preciso de ânimo para continuar a pintar a aquarela que nunca comecei.
Ainda to tentando ritmar o silêncio, tentando compreender a sua conduta nesses domingos frios e de autoconhecimento imprescindível.

domingo, maio 09, 2010

O carro buzina, o alarme do outro dispara, a televisão brada em altos decibéis, o garoto dá corda num brinquedo estridente, o microondas indica que o tempo calculado esgotou-se, o cozinheiro grita o prato da vez, o censor de estacionamento alerta para um obstáculo, o restaurante aumenta o volume da música, celulares tocam, muitos, vários, inúmeros, vozes dizem ‘alô!’, um carro de propaganda anuncia promoção da loja de presentes, a sirena da policia persegue algum fora da lei, o guarda de transito apita desesperadamente, a campainha do apartamento toca com insistência, a maquina de lavar acelera na rotatividade, o limpador de pó cadencia uma vibrante zoada...o mundo se exaspera em brados insuportáveis. Tenho a sensação de que as pessoas não conseguem mais conviver com o silêncio. Há um burburinho no ar que atordoa como se, embriagadas por timbres externos, enfrentassem melhor a realidade. Estou cansada de tanto barulho, careço de um mínimo de quietude, ainda que a contemporaneidade já não suporte os ecos interiores. Os medos se misturam a ruídos, que funcionam como amortecedores das insatisfações. Assim, a vida passa na superficialidade, sem que a essência venha à tona, camadas de papel celofane envolvem o núcleo da reflexão. E, pronto. A anestesia provocada pelos mais estranhos estampidos, resolve os problemas cotidianos.
Sair de casa hoje PE ato de heroicidade, transito engarrafado, barulhos assimétricos, uma gama, repleta de dificuldades, que convida a um retorno imediato. A cidade perdeu o planejamento, ninguém respeita ninguém, por todos os cantos observa-se intranqüilidade estampada nos rostos, sem aludir à violência crônica. E não importa a idade, a hora do dia, o nome da rua... Em todos os lugares, os barulhos espocam e os nervos se descontrolam, expostos, à flor da pele.
Confesso o amor pelo silêncio. Não sou diferente de ninguém, igual aos iguais. Conheço, todavia, meus limites, os estampidos me incomodam sobremaneira. Por mais que eu tente suportá-los, acabo rejeitando-os com veemência. Cenas histriônicas me arrepiam, e, no entanto, a todo instante, eu me deparo com uma avalanche de ruídos, vindos de todos os lados, como se me perseguissem assustadoramente. Que hei de fazer?
Sou tão pequena pra lutar por um mundo mais calmo e sensato. Um mundo silente, mera utopia! Resta-me, entretanto, um aceno de alerta nessa multidão ruidosa. Um rogo de desespero: Silêncio, por favor!

sábado, março 06, 2010

Que idade tem os meus desejos? Sei que percebo adolescentes, plenos de energia no fundo, quase infantis, mais jovens que o corpo. Há uma miríade de vontades que não corresponde à versão cronológica. O hiato cresce à medida que os dias fluem. E entre conflitos, a alma se expande, transbordando-me. A vida linear seria insípida sem altos e os baixos das emoções.
A rotina, ela por s, já garante o movimento interno de cada um. O que vale é esse balanço de uma intinerância que oscila do sim para o não. Do não para o sim em compasso pendular. O equilíbrio dos contrários traz a harmonia da vida: ora de um lado; ora de outro. E a caminhada persegue linhas centrais do pensamento.
O paradoxo sustenta a unidade. Somos feitos de partes desiguais, fragmentos que se espalham por aí, pequenos estilhaços e grandes pedras rochosas, ainda virgens de lapidação. Trago a sensação de que preservo gavetas no consciente, todas interconectadas. Por uma medida pragmática, procuro fechar uma e abrir outra, como se fossem independentes, com identidade própria e domínio igualmente próprio. Ainda que o exercício das gavetas favoreça atos de objetividade e subjetividade, os elos não são atingidos. A cadeia permanece.Sou um todo constituído de somas, dividendos, multiplicações e subtrações. Busco adição como o elemento mais favorável á construção do meu ser, e a passagem dos dias, meses e anos impele-me o esbanjamento da constelação de mim.
Quero as veias a latejar pulsantemente, a sentir os fluxos e refluxos nos seus ápices, sem restrições, numa doação completa e prazerosa. Viver é experenciar intensos sentimentos. Do zero ao infinito, as sensações variam dentro de uma cadência cotidiana. Os meus êxtases se desdobram nas fantasias do possível..
Pode parecer estranho, mas faço do pensamento, um ato de lazer. Nele me descubro, me invento, me reinvento, me isolo ou interajo com vividez . E não importa o tempo de duração: no pensamento, tudo é eterno. Vou longe, atravesso os oceanos que me habitam, desembarco em portos distantes, sigo em direção incerta e acabo me confundindo numa geografia que não tem lugar.
Do que se conclui que pensar é um ato solitário tanto quanto pleno de multidões.
Multidões silenciosas que ajudam a fortalecer o eu pessoal.
Será possível deixar de pensar?

No paradoxo que sou eu, o pensamento consigna o meu ponto de fuga e de realidade. Brinco com as palavras mudas, e também com as palavras escritas, na tentativa de torná-las partitura de mim. Assim, deambulo entre sendas as mais diversas e me apreendo cúmplice das palavras, palavras que formam pensamento ou apenas revelam o âmago da existência.
Palavras e pensamentos, caleidoscópio perfeito.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Sei que sou feita de recordações. Absorvo o instante de agora para amanhã desfiá-lo num novelo de ilusões. Não sou diferente de ninguém. Uns ousam falar dos sentimentos; outros omitem as emoções por rigor de discrição, ou pelo receio da excessiva exposição. São jeitos diferentes de sentir, mas sentidos sempre. Pois é, o mundo é feio de memórias, das lembranças que nos acodem com a força das reminiscências. Há uma nível evocativa que se instala dentro de cada um, a esboçar o rosto que é meu e que é de todos. Se preservo a memória, preservo a vida. A correlação é absoluta, íntima.
E o tempo se instala naquilo que fui. Conheço cada pedaço do caminho que atravessei, transito entre fantasmas, existo porque eles me fazem latejar o sangue que corre nas veias. Gostaria de escrever sem palavras, mas o pensamento surge mediante a linguagem. Não posso dissociar a letra das formulações da mente E escrevo por necessidade visceral. Narrar é a única maneira de (às vezes) sobreviver. Entre fases e parágrafos, sinto-me viva; a mexer em intrincadas teias formadas no meu íntimo. Algumas emaranhadas em bolor, algumas tecidas sob os subterfúgios das linhas da Esfinge, linhas enigmáticas, de tradução quase impossível.
Urge desvendar enredos misteriosos, o que não posso é deixar-me engolir por mim mesma. E os volteios são nacos de uma história que ainda não contei (quiçá, não vivi.): Vagueiam lá atrás na estrada da infância, quando o tempo não se fazia tempo, corria entre os passos da menina, ingênua, pura, a selar compromissos com uma cronologia eternizante. Quem disse que contabilizava os dias? Cada minuto que passava, representava um minuto de alegria...
Os Natais me diziam épocas de encontros com os parentes que não freqüentavam a minha casa. Tudo palpitava na esperança do advir. Ser criança é ter a capacidade de visualizar o infinito, o infinito...
Depois crescemos e as idealizações modificam, mas a memória serve de alicerce à construção das utopias. Devanear corresponde a ativação da memória, a presentifica-la sob a escolta do passado. E o passado se congela numa memória seletiva, capaz de transfigurar os fatos e as lembranças. Pensar, no ofício maior da existência. Penso e medito. Introspecção me habita. Gosto de escandir essa memória, assim desfruto com maior parcimônia e, com a calma dos mansos, procuro tratar a lembrança com o máximo respeito, afagá-la com mãos abstratas, compondo a unidade de fragmentos. Conheço alguns estilhaços, de outros, nem desconfio. Ainda bem! Necessito de reservas de mim. Há dias em que o mundo me espanta; há dias que convivo com a exterioridade em harmonia; há dias em que o desgaste do corpo se dá em intensidade. O círculo da vida é assim: um rodeio permanente com altos e baixos; Mas tudo muda em movimento espiralado. A soma dos dias resulta no calendário do tempo, e como indaga “quem sou eu para saber p que é o tempo?”
Que pretensão tentar escondê-lo!
O que me cabe é a memória. Sou inquieta e ansiosa. Talvez aparente o contrário; puro engano. Trago os nervos expostos e o mundo que me cerca, se configura a partir do que eu percebo. Neste solilóquio vou edificando pedra sobre pedra, uma engenharia lenta e vagarosa. Prefiro assim...a memória reclama um trato especial, vagaroso e paciente, dotado de perenidade e delicadeza.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Ando cansada de assistir ao que não quero, de saber-me uma ilha deserta em meio à vasta multidão. De perceber que o mundo avança sem bússola, alheio aos sentimentos de cada um. Vejo demais e ouço o que dói. O burburinho cresce em insuportáveis decibéis. Fujo pela primeira porta: vou para um lado, para o ouro, estonteio-me, o corredor acaba desaguando no mesmo destino: a banalidade das emoções. Ninguém detém o ritmo avançado do fracasso ético, os fatos bailam à nossa frente, retratando mensagens artificiais e postiças. O sentido crítico vem desaparecendo ao longo dos anos, os recuos diante dos padrões vigentes esmorecem. O medo atravessa a garganta dos homens. O que não falta, entretanto, são os fantoches por toda a parte, prontos para atacar a solidificação de um modelo vulgar, sem menor requinte de elegância. Cenas mambembes, inexpressivas, pobre de grandeza se repetem: mediocridade impera. A análise criteriosa da vida desapareceu. Esqueceram a honradez e a nobreza de atitudes. O que fazer?
Respiro fundo. Sinto coração partido, fragmentado. Guardo as lágrimas nos olhos, mas recolho-as; afinal, a festa não pode ser interrompida e o concerto de uma orquestra toca ruídos assimétricos. Pois é, a rotina perdeu a magnitude do afeto e os dias se sucedem desordenados. O importante é galgar o pódio da vitória, nada mais. Sentimentos? Que bobagem! Romantismo?Palavra em desuso. Apenas o reflexo de um sucesso arrogante. Aí sim, a glória se confunde com meras ilusões momentâneas. Trago um enorme cansaço que se mistura à sensação de impotência. As frases voam na dispersão de rostos desatentos. O fôlego do meu sopro é brando para acompanhar a velocidade dos acontecimentos; E...”tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, como diria Drummond, para enfrentar a avalanche de insignificâncias. Quão pouco para reverter um tempo de homens amputados. O vidro quebrou, há cacos espalhados pelo chão, com jeito a trilha se refaz... mas é preciso pisar em ovos. Ao compasso de inesperados volteios, intensa circularidade assegura minha errância.Não posso nem desejo mudar. Jamais aplaudirei atitudes histriônicas, nem excesso de exibicionismos, nem palcos soberbamente iluminados. Opto pela penumbra dos gestos conscientes, verticais, abissais.Que o pensamento me traga a lucidez da discrição, a prudência das cores leves, a virtuose do silêncio. Não aprecio riscos fáceis, tampouco a versatilidade dos áulicos. Entrego-me à introspecção do humilde. Os jorros de vulgaridade mortificam-me, apunhalam-me a alma, anulando-me por inteira.Busco a simplicidade do autêntico, a pureza dos sentimentos, o cálido aperto de mãos entre amigos que se querem bem. E brado: chega de falsos protocolos, de fingidas etiquetas, de intervalos no mundo. A vida não permite ensaios, apenas pensamentos pro ativos; existe em tempo real, aquele que se vive. Não adianta adiar o “espetáculo”. Ou nasce, cresce e fenece. Abandonar a essência das coisas em nome das banalidades correntes equivale a macular a própria historia essa biografia individual ou coletiva, comprova a nossa existência. Os ponteiros dos relógios ontológicos jamais se atrasam. Urge, portanto, que a dignidade represente o único e poderoso valor da imanente aos espíritos superiores.
Estou cansada de ruínas morais de fragmentos de afeto. É hora de reconstruir o mundo, com pressa e sem tergiversações, pois não há o que esperar. Coloco o primeiro tijolo...